Carta Capital
Há em Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, estreia de quinta 10, uma elaborada composição de detalhes que busca escapar ao imediatismo de uma história sobre a descoberta do amor gay entre adolescentes. Se a esta se chega, é pelo viés da delicadeza antes do que da evidência. Assim, quando Gabriel (Fabio Audi) se apresenta aos colegas da nova escola, será sua voz o elemento de interesse de Leo-
nardo (Guilherme Lobo), garoto cego que tem apoio no cotidiano da amiga Giovana (Tess Amorim). Ainda que a falta de visão seja fator óbvio, um plano do ouvido nos faz crer numa diferença de sensibilidade que servirá a todo o relato. Mesmo dotado de sentidos, Gabriel não será o primeiro a ter claro o sentimento a unir os dois senão quando se expõem nus, em outra sequência inspirada.
Com esse bom manejo dos paradoxos universais da paixão e não apenas de conotação homossexual, o diretor Daniel Ribeiro se fez compreendido. No recente Festival de Berlim, sua estreia no longa-metragem venceu os prêmios Teddy Bear, dedicado à temática, o da crítica internacional (Fipresci) e um valioso segundo lugar na preferência do público na seção paralela Panorama. Conquistar diferentes grupos de opinião é raro, e Ribeiro havia experimentado reação similar ao lançar, em 2010, o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, com os mesmos personagens, atores e situação. Ampliou-se agora o contexto com a inclusão dos adultos, os pais e a avó de Leonardo, e um ou outro dilema. Como nos fatos, descobertas e incertezas para a prova da vida adulta pertencem aos que estão crescendo.